Nos dias atuais, com tantas coisas acontecendo no mundo que ficamos um pouco “zonzos”, está cada dia mais comum vermos pessoas de “eterno mal humor”.
“Não dá pra ser feliz assim“. “Não consigo encontrar a tal felicidade“. “A vida está muito dura para eu achar que posso estar de bom humor“. Frases assim estão cada vez mais rotineiras, não só na clínica, como também nas famílias, rodas de amigos e locais de trabalho.
Existe um diagnóstico que pode indicar um “eterno mal humor”, mesmo sem relação direta com acontecimentos externos: a distimia, que etimologicamente significa “mal humorado”. A distimia tem relação com a melancolia, podendo ser considerada um medo intenso ou até mesmo depressão. Essa depressão, no entanto, seria uma depressão crônica leve. Distimia pode então ser considerada como temperamento depressivo pela presença constante, embora fluente, de tristeza, ansiedade, pessimismo e falta de prazer (Moreno, 2010).
A partir de 1980, com o DSM-III, todas as depressões crônicas com evolução superior a dois anos passam a ser tratadas como “transtorno distímico“.
Estudiosos, no entanto, conseguem ver a distimia como algo adaptativo, podendo não ser patológico. Porém, ela se torna mal-adaptativa quando gera o afastamento das atividades rotineiras, gerando por sua vez uma diminuição da capacidade de enfrentamento e da flexibilidade adaptativa.
Segundo o DSM-IV, os critérios diagnósticos para a distimia são:
- humor deprimido na maior parte do dia;
- duração de 2 anos sem remissão de sintomas;
- não ocorrência de episódio de depressão maior durante esses dois primeiros anos
- presença de dois ou mais dos seguintes itens:
a) aumento ou diminuição do apetite;
b) insônia ou hipersonia;
c) baixa energia ou fatigabilidade;
d) baixa autoestima
e) diminuição da concentração ou indecisão;
f) desesperança.
A maior prevalência de distimia é em mulheres, e também pode ocorrer em crianças, nas quais os sintomas são menos graves, sendo basicamente caracterizada pela persistência e cronicidade do humor depressivo ou irritável, durando 3 a 4 anos, em média.
Alguns distimicos podem ser taxados de arrogantes, e apresentam alterações no apetite e libido. Por essa razão, faz-se necessário um diagnóstico bem feito, pois a distimia não pode ser diagnosticada na presença de outros sintomas maníacos.
As vezes, a distimia é taxada como “aquela doença que a pessoa vive de mal humor“, mas ela pode trazer consequências graves para o paciente, pois ela, em termos de sintomatologia, não difere da depressão maior, sendo diferente apenas pela cronicidade.
Como se dá o tratamento para a distimia? De forma medicamentosa, e também com abordagens psicossociais. Somente remédio não adianta no tratamento, que pode ser muito eficaz se associado com terapia. Uma boa psicoeducação é fundamental para a adesão do paciente e de sua família, principalmente quando se trata de distimia, uma doença que ainda não é encarada como séria, e muitas vezes, não é o motivo da busca de ajuda por aquele que sofre com esse transtorno.
Ficou com alguma dúvida sobre esse tema? Envie um e-mail para ticiana27.11@gmail.com
Um abraço e até o próximo post.
Ticiana Araújo Carnaúba
(psicóloga clínica e orientadora profissional)
(Quero deixar claro que nenhuma postagem substitui uma avaliação ou uma sessão de terapia, falo aqui sobre assuntos de forma introdutória, e não definitiva).
REFERÊNCIA: MORENO, R.A. Distimia: do mau humor ao mal do humor: diagnóstico e tratamento – 3ª ed. – Porto Alegre: Artmed, 2010.